Nasci na década de 70, em um Sitio no interior de São Paulo, filhos de Dona Si e Sr. José, fomos criados na base do medo, digo, nossos Pais, para que não fizéssemos artes, usava a barreira invisível do medo, nos contava histórias do Saci-Pererê, bruxa, Cuca, Lobisomem, fantasmas etc., para se ter uma idéia do que estou falando a canção de ninar era sempre a mesma e com ela, eles criaram os seus cinco filhos, ou seja “Dorme neném se não a cuca vem te pegar […]”.
Aí, que eu não dormia mesmo, mesmo pequenina pensava comigo se ela vem me pegar acordada, imagina só o que ela não vai me fazer se eu estiver dormindo. E pensando assim, passava noites e noites sem pregar os olhos, até que o cansaço me fazia adormecer, e sempre tinha pesadelos e acordava aos berros, com muito medo.
Hoje, adulta sei que todas as histórias que nós foram contadas na infância, pelos nossos Pais eram de certa forma, para nós criar uma barreira de proteção, ou seja, para nós proteger, e dessa forma para que pudêssemos sobreviver a infância em um local inóspito, e sempre sair em alerta. Como por exemplo não entravamos na Mata sozinhos, pois tínhamos medos, da Cuca, do Saci da Caipora, e com isso eramos protegidos das cobras, onças e lagartas, sim, lagartas existem algumas especies extremamente venenosas, e assim eles se sentiam seguros, pois, seus filhos estavam sempre por perto, ao alcance de seus olhos.
Assim, quando eramos crianças, ficávamos sempre em alerta, para que nenhum coleguinha entrasse em carros de estranhos. E atentos aos sons da natureza, ou seja, a Estrada que era caminho da Escolinha era também por onde passava a boiada, naquela época não se usava os caminhões para transportar os bois e vacas como é hoje, e tínhamos que sair correndo em disparada, ajudando os menores, a sair da Estrada o mais rápido possível, para dar passagem aos bois. E nos abrigávamos nos barrancos, e para se evitar acidentes a importância do berrante e da garganta/ gritos do Boiadeiro era primordial. E é esse medo que até hoje nós ajuda a atravessar as ruas com segurança.
Para os mais jovens o que vou dizer agora, vai lhe parecer absurdo, mas não tínhamos celulares, computadores, tablet, fone de ouvido etc., ou seja, a maioria desses objetos nem existia nessa época, antes que me pergunte, SIM, da para se viver muito bem sem esses objetos, pois conversamos uns com os outros, tínhamos amigos de todas as cores e religiões e nunca isso foi um problema, era amigos de carne e osso, de abraços e sorrisos. E não, amigos virtuais de emojis.
Quando eramos crianças sabíamos respeitar e ser respeitados, pois havia dialogo em nossas famílias, conhecíamos nossos vizinhos pelos nomes. As casas ficavam distantes umas das outras, mais sabíamos as dores dos outros.
A noite não tínhamos poste de luz, e nem em nossas casas tínhamos energia elétrica, como era perigoso sair á noite, nossos Pais diziam que o Lobisomem passeava pelo quintal sempre que a noite aterrissava na terra, para ser sincera nunca fui lá para verificar se era verdade ou não. E dessa forma fomos crescendo e a energia elétrica, enfim, chegou ao Sitio e o escuro já não era mais tão escuro. Mas, mesmo assim, ainda tenho medo do escuro até hoje, pois tem medos que ficam enraizados dentro da nossa alma, e confesso que só consigo dormir se houver um ponto de luz dentro do quarto, pois na infância permaneci muitas noites no breu total.
E como era muito pequenina, analisa comigo se você fosse eu, na mesma situação, ou seja, com certeza também teria medo do escuro, digo os adultos passavam o dia inteirinho contando histórias horripilantes e depois te colocava no berço para dormir ao som da “cuca vai te pegar, totalmente no escuro/breu total aposto que você também teria medo do escuro até hoje, assim como eu.
Entretanto meus País , por mais que tentaram contar as histórias de tudo que mete medo, eles mesmos não conheciam e nem imaginaram em seus piores pesadelos que a pior criatura que pode existir na face da terra e que pode meter medo até no bicho papão, é o Politico sem DEUS no coração!
” Medo da diferença, da indiferença, da arrogância, do desprezo, da ignorância, do preconceito, do politicamente correto, do jeitinho brasileiro, da corrupção, da inflação, da humilhação, da falta de profissionalismo dos políticos, da inveja, da tristeza, das escolhas, do seu corpo, do passado do presente do futuro”. Ana Beatriz B. Silva, livro: Mentes ansiosas.